Continuando: Enquanto estava a crescer fui sempre a "menina", mas houve uma altura em que comecei a sentir de vez em quando, a necessidade de alguma agressividade - e isso hoje traduziu-se na roupa que uso, na maquilhagem na tinta do cabelo, nos piercings e nas tatoos. Há anos atrás ainda estava a tentar perceber como deixar sair essa agressividade - não deixo no entanto de adorar tudo o que é arte, música clássica, alguma punk music, country music e se alguma cena de filme me cai na fraqueza sou capaz de chorar baba e ranho! Todo este vendaval rebentou há anos atrás quando desisti de algo que pensei que era para mim: entrar numa ordem religiosa. Quando cheguei à conclusão de que não era, não sofri pouco, mas ultrapassei. Tu achas-te um contrassenso porque não gostas muito de ti mesma, não é? Nós somos um mundo complexo: hoje somos assim, amanhã somos assado ... estamos sempre a mudar e a crescer e a surpreender-nos a nós próprias.
Bom, quanto ao teu curso, só tu podes dizer como dizer aos teus pais que isso não te faz feliz - se é isso que queres e te sentes - a vida é muito curta para a passarmos a sentir-nos numa camisa de 7 varas ... será que não há nada na área que tu gostasses? Sei lá! Solicitadora? Sabes que hoje um canudo não é tudo ... há licenciados a varrer as ruas de Lisboa ... e sabe-se lá que mais! E os advogados hoje também têm dificuldades.
A minha irmã comprou uma casa de férias que tem umas tiras de terreno à frente e atrás da casa. Quem lhe tem estado a tirar o entulho e a plantar plantas aromáticas como salsa, coentros, folha caril (acho), alecrim e sei lá que mais, é um arquitecto paisagista que anda a trabalhar como jardineiro ! Além do mais tu trabalhas num supermercado onde se trabalha bué e se ganha pouquíssimo ... Fogo! É claro que tens de andar deprimida. Depois, não queres desiludir os teus pais que te ajudaram como puderam e que te querem ver bem ... será que os teus irmãos não te ajudariam a encontrar alguma coisa que te desse futuro e que sossegasse os teus pais?
Sabes que ainda por cima com os tempos que o país atravessa, não é fácil convencer as pessoas mais velhas que um emprego como "advogada" não é o ideal. O nosso país sempre foi um país de doutores ... o canudo sempre foi tudo. Embora perceba pelo que estás a passar, a única coisa que te posso aconselhar é cautela. Planeia com cuidado e tenta que em casa te percebam que a exaustão em que te encontras pode deitar tudo a perder, especialmente quando estás a começar o mestrado; como está o desemprego por essa zona? Eu se tivesse companhia, e maneira de o fazer, abria um negócio daqueles que eu visse lá fora e que dão rios de dinheiro e que aqui ainda não chegaram. Às vezes a pessoa tem de arriscar - com calma e ponderação, mas se se tiver vontade de trabalhar e alguma esperança, acho que se consegue.
Não desanimes Alforrecazinha, que melhores dias virão. Tenho pena que estejas tão longe: podia emprestar-te uns DVDs com filmes de adaptações dos livros da Jane Austen; tenho a colecção toda da Twilight Saga (foi uma paranóia ... de loucos). Depois dos livros tive de ver os filmes ...
E agora vou descansar. Quando puderes diz qquer coisa! 1 beijóca! ;))
Preparada para a minha saga? xD
Basicamente, tirei uma licenciatura em Direito, um pouco por influência do meu pai. Foram 4 anos muito difíceis em que tive de abdicar de vida pessoal e social e de muito sacrifício económico, porque os meus pais não tinham como me ajudar. Lá consegui acabar e com uma média razoável, mas nunca senti grande paixão pela área. Quando acabei comecei a trabalhar num supermercado por necessidade e lá continuei enquanto fiz o primeiro ano de mestrado. Mas agora, sinto que cheguei ao meu ponto limite. Tou farta de um emprego em que trabalho imenso, os clientes são mal-educados e sou mal paga; tou farta de lutar para atingir objectivos que nem tenho a certeza se fui eu que os tracei; farta de contar os tostões e de não ficar nem com 20€ no final do mês para comprar um livro, uma peça de roupa ou o que for; farta de receber convites para sair e ter de recusar porque trabalho ao fim de semana e ando sempre cansada... E agora tenho de fazer a tese de mestrado e só de pensar nisso fico com calafrios. Gostava de parar! Arranjar outro emprego, ir ao ginásio, sair, conviver, divertir-me, investir mais em mim, vestir como sempre quis, descansar... Pensei em parar o mestrado por agora, mas a minha familia não reagiu muito bem. Eles entendem-me, mas temem que eu comprometa o meu futuro. E eu também tenho receio de tomar uma decisão destas, medo de estragar o pouco que consegui até agora, mas sinto-me sem forças para continuar a levar a mesma vidinha estúpida de sempre e continuar a fazer sacrificos... E, por outro lado, sinto-me infantil por pensar assim... What do you think?